sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Quereres


(Só não sei mais, depois de tantas idas e vindas, quem é o que na ciranda)

"Onde queres revólver, sou coqueiro

E onde queres dinheiro, sou paixão

Onde queres descanso, sou desejo

E onde sou só desejo, queres não

E onde não queres nada, nada falta

E onde voas bem alto, eu sou o chão

E onde pisas o chão, minha alma salta

E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco

E onde queres romântico, burguês

Onde queres Leblon, sou Pernambuco

E onde queres eunuco, garanhão

Onde queres o sim e o não, talvez

E onde vês, eu não vislumbro razão

Onde o queres o lobo, eu sou o irmão

E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer

Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito

E onde queres ternura, eu sou tesão

Onde queres o livre, decassílabo

E onde buscas o anjo, sou mulher

Onde queres prazer, sou o que dói

E onde queres tortura, mansidão

Onde queres um lar, revolução

E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor

Construir-nos dulcíssima prisão

Encontrar a mais justa adequação

Tudo métrica e rima e nunca dor

Mas a vida é real e de viés

E vê só que cilada o amor me armou

Eu te quero (e não queres) como sou

Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer

Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo

E onde queres romance, rock’n roll

Onde queres a lua, eu sou o sol

E onde a pura natura, o inseticídio

Onde queres mistério, eu sou a luz

E onde queres um canto, o mundo inteiro

Onde queres quaresma, fevereiro

E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim

Do que em mim é de mim tão desigual

Faz-me querer-te bem, querer-te mal

Bem a ti, mal ao quereres assim

Infinitivamente pessoal

E eu querendo querer-te sem ter fim

E, querendo-te, aprender o total

Do querer que há e do que não há em mim"

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Let it be


Para criar meu Let it Be tive que passar do "faz um tempo eu quis/ fazer uma canção/ pra você viver mais" para "Ela disse adeus /(Now the deed is done /As you blink she is gone /Let her get on with life /Let her have some fun)"

Mas, Let it Be, sabe... em outros tempos, quando a casa de Vênus se encontrava ocupada por alguma outra coisa, eu poderia ter me empolgado um pouco mais e acrescentado "Agora você vai ouvir aquilo que merece /As coisas ficam muito boas quando a gente esquece /Mas acontece que eu não esqueci/ a sua covardia /A sua ingratidão /A judiaria que você um dia /Fez pro coitadinho do meu coração", mas não, não é o caso, de verdade...

E a gente sabe que é uma pessoa melhor e mudada quando optamos por usar esfoliante no chuveiro, ao invés de chorar. A gente sabe que "todos somos fabulosos" quando somos capazes de nos retirarmos dos lugares incômodos ao invés de implorar para que alguém jogue o lixo fora.

E não saber o que será daqui pra frente dá uma sensação boa de Doroty batendo seus sapatinhos vermelhos e ao fundo, claro: "Somewhere over the rainbow /Blue birds fly /And the dreams that you dreamed of /Dreams really do come true"...

C'est la vie!

sábado, 18 de abril de 2009


"Falados os segredos calam
E as ondas devoram léguas
Vou lhe botar num altar
Na certeza de não apressar o mundo
Não vou divulgar
Só do meu coração para o seu
Pecado é lhe deixar de molho
E isso lhe deixa louco
Não, eu não vou me zangar
Eu não vou lhe xingar
Lhe mandar embora
Eu vou me curvar
Ao tamanho desse amor
Só o amor sabe os seus
Não, eu não vou me vingar
Se você fez questão
De vagar o mundo
Não vou descuidar
Vou lembrar como é bom
E ao amor me render"

domingo, 5 de abril de 2009


"A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.

(...)

O excesso de tristeza ri;

o excesso de alegria chora.

(...)

O orgulho do pavão é a glória de Deus.

(...)

Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos,

assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.

(..)

É suficiente! ou Basta."


William Blakein

em

"O casamento do céu e do inferno"

.............


segunda-feira, 23 de março de 2009


Sempre que me perguntam sobre a experiência da submissão fico com aquela cara de boba tentando encontrar um meio de responder à quem não entende - e vai continuar sem entender.

É muito difícil explicar sem cair nas armadilhas dos papéis, das cartilhas, dos manuais práticos que fogem à toda e qualquer verdade que a submissão encerra...


Quando eu comecei a habitar esse mundinho bonito e secreto eu estava perdida e confusa como todos que começam todas as coisas e sou grata à sorte que tive.
A importância do que foi meu Dono é indiscutível e dispensa maiores comentários... Hoje eu quero falar das minhas amigas submissas, que graças ao estímulo e espaço que O que foi meu Dono me deu, eu tive a sorte de conhecer...
Essas moças se tornaram, cada uma a seu modo, exemplos e referências para mim como submissa, e companheiras e conselheiras em todos os campos da minha vida.
Eu digo isso com sentimentalismo meio piegas não só porque sou uma canceriana dramática, mas também porque anda cada vez mais difícil ter a sorte de encontrar submissas de fato inteiradas do significado da submissão que está além das cartilhas.
Eu tive muita sorte.
Fui bem recebida, bem aconselhada, bem orientada no meu começo e ganhei, de quebra, companheiras infalíveis pra todas as horas.
Vide {rianah} de Lestat... Companheiríssima de todas as horas! E quando eu digo todas quero dizer que {rianah} esteve presente desde a escolha do meu animalzinho de estimação até no meu sufoco em traduzir os textos pros meus trabalhos na faculdade... Dos meus porres virtuais nas madrugadas eternas, tentando, as duas, feitos loucas, ouvir a mesma música ao mesmo tempo na rádio uol, até minhas tardes chatas de trabalho, trocando figurinhas sobre as coisas todas... {rianah} está sempre, na alegria e na tristesa, no sufoco e na folia!!! E como se não bastasse é farol... tem culpa (rs) na construção da minha própria sibmissão... e como diríamos em algums momentos: não basta ter coleira, né, {ri}, tem que participar! rs
E ainda tem {anitta}, a {angel}_Policial Sádico, a {vita}_Senhor da Torre, a {Levanah}_Master Lander que me são muito caras, queridas, amadas. Cada uma ao seu modo, com seu humor e com sua vivência me deram apoio, companhia, conselho, alegria, amizade mesmo. Não tenho dúvida que tudo seria diferente e menos leve sem essas preciosas.
Amizade é para muitas coisas e cada um tem sua teoria sobre isso. À essas amigas eu sou grata por muitas coisas, entre elas pelas trocas de idéias, pelo amparo tácito.
Somos seres sociais, querendo ou não, gostando ou não. No BDSM as amizades me são caras para coisas além do BDSM em si e acho muito bom que assim seja. Tristes dos que se fecham, dos que vêem o meio como um bloco rígido e não como um mosaico de personalidades. Eu encontrei pessoas maravlihosas naqueles avatares e não me privaria disso por nada.
E assim eu declaro meu amor de irmã às minhas amigas submissas. Não dividimos nossas coleiras, nossos Donos nem nossas sessões: dividimos nossas vidas, nossas companhias, nossas janelinhas no msn!!! E sou muito feliz com isso!
E quando indagada novamente sobre submissão talvez encaminhe os curiosos à vocês, moças... Estão muito mais aptas às respostas!

Há quem procure o amor nas pessoas, na família, no dinheiro, no feijão com arroz, na marmita presa pelos braços no metrô lotado ás 5 da manhã...


Há quem procure o amor no passado, nos verões, nas micaretas, debaixo da cama, num velho cartão postal perdido entre as páginas amarelas de um livro de sebo...


Há quem procure o amor nas respostas, nas palavras, na experiência, no cigarro compartilhado, no espelho do bar...


Há quem procure o amor no amor dos outros, nos livros de Garcia Marquez, nas canções do Chico, nas mulheres de Picasso, nos sonhos esquecidos, nos contos de fadas.


Eu procuro o amor onde é mais difícil encontrar o amor: na Verdade. E me pergunto à cada caça: será o amor quem esconde a verdade ou a verdade é quem esconde o amor? Ou serão ambos faces da mesma moeda inválida e cafona, com a qual só conseguimos comprar o que não queremos nem pedimos?


Nessas horas, ao contrário do que possa parecer, eu me convenço de que nos cabe somente aceitar qualquer coisa e dançar um tango argentino no túmulo dos sonhos todos... Pois aconteça o que acontecer o epitáfio sempre será: nenhum amor de verdade nos contempla.


Um brinde aos meus rasos companheiros de planeta que se dão por satisfeitos com as juras de amor que lhes são proferidas... Eu os injevo com toda a capacidade de admiração desse meu coração rabugento... E em homenagem aos pobres diabos que, como eu, são escravos da verdade que tanto destrói, ele, o mais pobre de todos os diabos e sua ode à Verdade do amor: Vinicius de Moraes.


Canto de Ossanha


-"O canto da mais difícil
E mais misteriosa das deusas
Do candomblé baiano
Aquela que sabe tudo
Sobre as ervasSobre a alquimia do amor"


Deaaá! Deeerê!
Deaaá!
O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!

O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer

Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai!
Vai!Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passouNão!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Amigo sinhôSaravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


Existem diversas mortes e não apenas seres e plantas morrem. Os budistas comparam a vida à um rio que você não pode simplesmente comtemplar: a vida é um rio dentro do quel você está e alguns usam o verbo "viver" unido ao "morrer" - viver/morrendo, pra ilustrar essas mortes cotidianas que temos todos.


Bom. Quando uma relação, um amor, uma amizade ou um ódio morrem, morrem com ele qualquer coisa de quem o sentia - para o próprio e para o Outro. Mas não tudo. Quando deixamos de ser amados, de certa forma morremos para quem antes nos amava. Isso pode se dar de forma negativa - quando morre nossa presença, nossa importância e nosso calor-, ou de forma positiva, quando simplesmente deixamos de existir da forma como existíamos e pssamos a viver e participar em outros planos.


O Mundo dos Mortos não é tão triste assim...


Quando Mumtaz Mahal faleceu dando à luz ao seu 14° filho, seu marido, o imperador Shah Jahan construiu em sua homenagem o Taj Mahal. É um mausoléu para o amor da sua vida, mas também uma prova suprema desse amor.

Com o Taj Mahal Mumtaz Mahal foi eternizada... A princesa não morre na sua morte física e tampouco morre o amor de Shah Jahan com a impossibilidade de tocar, beijar e abraçar sua esposa. Eles se transformam... os amores e os seres amados.


O Taj Mahal representa pra mim - porque assim o quero ver - o simbolo supremo de que os amores continuam existindo depois das tranformações. O Grande Homem constrói para sua princesa morta e transformada um palácio, o mais lindo de todos, para guardá-la, protege-la, honra-la. E a princesa morta e transformada, por sua vez, não assombra o Grande Homem com a vida passada - ela embeleza a vida que segue para Ele.


Evidentemente a dor dos amores mortos nos remete, num primeiro momento, à morte de todos os sonhos dos amantes. É preciso, nessa hora, ser grata ao mundo pelos sonhos já vividos e entender, por mais que doa, que o melhor que podemos fazer é contruir nossos palácios em honra à esses amores. Palácios lindos, que protegem e eternizam. Palácios que honram. Palácios que tentem alcançar a beleza do que foi vivido, para que o mundo saiba que as transformações, as mortes e as perdas deixam algo de bom: a lembrança.


O Taj Mahal está lá, acima de tudo, para os descrentes... para que vejam todos, toquem todos, uma centelha de amor em forma de mármore.


E eu, que também acebei "morrendo" de tanto amor, aproveito para agradecer pelo palácio em que descanso: cá, no outro plano em que caminho, onde já não posso mais tocar, beija e abraçar, sinto que nada foi em vão e que a beleza das coisas ecoa para sempre, basta que sejam verdade.


Na minha transformação eu descanso sob a mão que me protege, me apoia, me socorre no desespero e afasta o que pode me causar mal... sem contar que a vista pe linda, rs.


Obrigada, Grande Amor... obrigada por tudo.