segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Suportar ou Superar


É muito comum falar em evolução da submissa. Volta e meia me deparamo com essa frase no meio e isso se dá com toda propriedade. É justo que uma das prerrogativas da entrega seja a predisposição ao aperfeiçoamento, a evolução.

O esforço é uma das marcas da submissa, é verdade, mas tanto pode elevá-la como arruína-la. Acredito nisso porque a interpretação de esforço e superação pode ser confusa. Podemos conseguir a mesma coisa, superar o mesmo obstáculo por diferentes meios e com diferentes conseqüências...

Deixa-me tentar explicar melhor.

Existem muitas expectativas acerca de uma submissa. Todas elas fazem sentido. No entanto ninguém deixa de sentir determinadas coisas automaticamente, só por ser sub. Isso não deve ser usado como justificativa para o comodismo, mas é um fato. E nesse ponto entra o esforço da submissa, a tentativa de progresso, de adaptação, de superação.
O problema é definir em que termos todas essas coisas acontecem e o que de fato é importante para identificá-las.

A boa submissa seria aquela que aprendeu direitinho como se sentar, como falar, como pedir, como responder e decorou direitinho os termos gringos para cada posição ou técnica? Sim, pode ser... mas é bom lembrar que não só cadelinhas como também ratinhos de laboratório e chipanzés aprendem muito rápido determinadas regrinhas de comportamento. Nem precisa ser um bom amestrador para ensinar isso a algumas criaturinhas: basta um saco de ração e um pouco de paciência.

Já no que compete a sentimentos e sensações, é complicado. Porque sou submissa não posso sentir ciúmes e nem nervoso no bico do peito? Bom, não é no que pode ou não pode que está o problema. Cada Casa com sua lei e cada um com seu bom senso e mais ninguém tem a ver com isso. O problema é que por conta das expectativas e do ideal de uma sub malabarista muitas meninas se julgam na obrigação de superar muita coisa. Fazem muito bem, se for sincero e se agradam ao Dono, mas há de se saber distinguir limites e limitações. Não que barreiras sejam barreiras e ponto final, mas é por que existe uma enorme diferença entre suportar e superar alguma coisa, e essa diferença é geralmente muito confusa diante de um caso concreto.

Você pode suportar seu nervoso no bico do peito e morder os lábios tentando pensar em um lugar tranqüilo e bonito enquanto reza para que seu Dono pare logo de tocá-los (afinal, ele gosta tanto e você é uma propriedade que precisa se entregar de corpo e alma), ou ser honesta, contar com a paciência daquele a quem você se entregou e, juntos, procurarem novas formas para que seu bico do peito seja tocado, até que de verdade você consiga fazer isso (ou não, e daí conversem sobre o assunto e cheguem a alguma conclusão), o que é, se você pensar bem, tentar progredir para uma entrega mais sublime. Esse é um exemplo fraco, de algo que geralmente é facilmente resolvível, mas pode ser transferido pra muitas outras situações mais graves e complicadas.

O que eu digo é que o desejo de superar é tanto que não procuramos analisar direitinho os mecanismos. Não que não haja beleza nisso, mas tão melhor é quando há beleza e sinceridade... Claro que nesse processo é fundamental a ajuda do Dono.
Não sei se é generalizado, mas às vezes tenho a impressão de que alguns Donos só se julgam como tal a partir de decretos e vontades caprichosas a serem atendidas. Subs de Dons assim enfrentam um sério problema. Muitos dirão nesse ponto, talvez: “Ah, mas sub tem sofrer, o sofrimento e a angustia são os ossos do ofício, patati, patatá...”.
Bom, posso estar enganada, mas existem dores e angustias que sim, são departamento da submissão, evidente que sessões BDSM não são compostas por massagens tailandesas e aguinha de côco num canudinho decorado, mas uma coisa é submissão sã, segura e consensual e outra é estupro de valores inevitavelmente inerentes à pessoa humana. Valores esses relativos e passíveis de releitura, mas ainda assim, valores. Submissas condicionadas à tirania insana de “tem que fazer, tem que ser, AGORA, anda logo, etc e tal” podem acabar virando ratinhos de laboratório absolutamente neuróticos e inseguros.

Nada foi superado. Não há evolução nisso. O que aconteceu foi um tratamento de choque e a instituição de uma devoção onde existe mais medo que respeito. É pouco possível que alguém que não tenha aprendido, mas decorado na base da paulada esteja satisfeito, sabe...

Sabemos que não é uma democracia, existe uma hierarquia e nosso respeito a ela depende de um respeito a nós, ao nosso Dono, à nossa Casa. A superação e a evolução da submissa têm o intuito de torná-la melhor, serena, capaz, grata. Isso dificilmente será alcançado se ela não tem oportunidade de refletir sobre suas limitações e defeitos. Ninguém muda o que não entende que está errado. Se o papel da sub inclui o esforço, o do Dono inclui a proteção e o acompanhamento. Para guiarmos o nosso esforço para o que Lhes agrada é necessário que saibamos o que Lhes agrada.

As formas mais sutis de exercer autoridade são também as mais eficazes...
Subs que passam por essa situação nem têm culpa pelo equívoco de suas intenções. Não têm sequer oportunidade de refletir sobre elas, vivem num estado de tensão muito prejudicial a si próprias, principalmente, mas que a acaba prejudicando a relação, desvirtuando o sentido da submissão. Mas a maioria dos casos o que acontece é confusão mesmo. A sede de servir bem e cumprir sua cota mensal de esforços é tanta que confunde a capacidade de julgar.


Mas, enfim, dentro do possível eu acredito que antes de se propor a superação de algo, deve-se pensar muito bem no caminho, devem-se respeitar seus próprios sentimentos e não tentar bloquear mentalmente as dificuldades. Não só para garantir a sinceridade da tão estimada entrega, mas também pela garantia da nossa própria sanidade sentimental, não menos importante.

Parece clichê ou receita de auto-ajuda, mas é verdade.

Contentar-se em suportar qualquer coisa pode parecer um grande feito e quem sabe possa até ser. Mas superar é diferente. Superar sim, é fruto do esforço, do alto conhecimento, é mecanismo de entrega. Só entrega alma quem tem uma. E existe um abismo entre uma sub esforçada em superar o que macula seu caminho e uma porta de juntas flexíveis e respostas perfeitas decoradas... Até porque a indústria erótica já se prontificou em produzir bonecas infláveis bastante jeitosinhas, que além desses atributos da dita porta falante, não sofrem de TPM e ocupam um espaço bastante reduzido no armário...

É isso que eu acho...
E por assim pensar e por assim procurar me conduzir (e eu erro, como erro! Aff...), só tenho a agradecer ao Dono, pela paciência com que me guia
...

6 comentários:

Primavera nos Dentes disse...

Olá Natasha. Agradeço sua visita e digo que é claro que pode me linkar. Também te linkarei. E gostei daqui igualmente, o que já era esperado vindo de alguém ligada ao Dominus.

Sobre o post, concordo com sua visão e penso que o essencial e mais profundo é perceber o quanto cada um é humano. É essa humanidade a chave de uma relação plena, mas vejo sempre que a plenitude não é bem o que as pessoas buscam... Mas, enfim, cada um sabe o que lhe faz feliz, não é mesmo?

Anita disse...

perfeita!!!!!

bjosss e não sumo mais! ;-))

many disse...

Parabéns pelo texto e pelo blog!
Já estais em meus feeds!
bjs
Many
www.submissa.wordpress.com

liquidificador disse...

muito bem pensado e exposto, Natasha. já me aconteceu de tentar superar um obstáculo e depois perceber que apenas o suportara em detrimento da minha real felicidade, o que ao invés de me fortalecer apenas me fragilizou. muito importante o que você diz sobre o acompanhamento do Dono nos processos de superação. Apoio e cuidado, taht´s the key.
beijos

many disse...

Oi Natasha, Parabens pelo seu blog!!

Estou promovendo um campeonatozinho de textos em meu blog, onde o primeiro lugar ganha um par de prendedores de seios importados. Não gostaria de participar?

www.submissa.wordpress.com/2008/01/22/promocao-faca-many-tremer/

bjs
Many

{rianah}·····Lestat disse...

olá, querida!
sabe que planárias podem ser adestradas através de choques?
então, ainda bem que não somos planárias, somos subs, sim, mas subs PENSANTES!
Parabéns pelo texto, amada!
beijos
respeitos à Casa!